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Beleza Cotidiana 12/03 >> 09/04/22

Beleza Cotidiana

12/03 >> 09/04/22
Curadoria
Dominic Christie
12/03 >> 09/04/22
Feliciano Centurión
Beleza Cotidiana
Curadoria
Dominic Christie
Sobre

A trajetória do artista paraguaio Feliciano Centurión (1962 - 1996) será homenageada em mostra inédita da Galeria Millan. Com curadoria de Dominic Christie, curador e pesquisador radicado em Londres, a exposição Feliciano Centurión: Beleza cotidiana - primeira individual do artista no Brasil -, traz ao público um conjunto de peças em tecido do artista organizadas em três núcleos temáticos: Fauna e Flora, Iconografia Religiosa e Espiritual, e Materialidade.

A obra de Feliciano Centurión, ainda pouco conhecida no Brasil, incorpora objetos cotidianos e estampas decorativas de designs pré-existentes. Segundo o artista, em depoimento, “o ecletismo da nossa realidade com a diversidade de linguagens e informação nos exige um maior compromisso e nos permite apropriarmos com total liberdade para poder nos expressar. Assumo a cotidianidade, o banal, a ironia, o lúdico, a alegria e a diversão”.

Centurión garimpava as peças em feiras de rua e realizava em cada uma intervenções manuais com bordados e crochê. Os trabalhos têxteis adotam como suportes cobertores infantis, aventais, almofadas e pequenos recortes de tecidos estampados que remontam ao ambiente doméstico, infantil e à esfera afetiva. Neles, figuram-se elementos da iconografia cristã, da fauna e da flora nativas da região subtropical do Paraguai -  onde Feliciano viveu durante a infância -, e representações de animais imaginários. A relevância do contato com o mundo natural em sua produção, bem como as técnicas e motivos adotados, reportam às raízes étnicas Guarani do artista, um marco que lhe trazia muito orgulho.

Nascido em San Ignacio de las Misiones, na zona rural do Paraguai, e criado pela mãe e pela avó, Centurión cresceu em um ambiente católico e composto majoritariamente por mulheres - traços marcantes da cultura paraguaia desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), ou a Guerra do Paraguai, quando o país perdeu cerca de 90% de sua população masculina.

Após mudar-se para a Argentina com sua família durante os anos 1980, Centurión iniciou seus estudos em artes visuais e, por volta de 1989, passou a fazer parte de um grupo de artistas ligados ao Centro Cultural Ricardo Rojas, associado à Universidade de Buenos Aires. Os artistas desta geração adotaram em suas obras materiais não convencionais, por vezes corriqueiros,  como brinquedos de plástico e objetos da cultura popular. A partir deles, criavam uma estética associada ao kitsch e voltada à apreciação do próprio fazer artístico – que se opunha ao conceitualismo em voga durante os anos 1970 na América Latina. Nesse contexto, Centurión participou do grupo 3x3, ao lado da artista argentina Ana López e da brasileira Heloísa Schneiders.

Sua breve produção artística, que soma cerca de 250 obras, se manteve praticamente desconhecida fora de seu contexto de origem por cerca de duas décadas após seu falecimento em 1996, em Buenos Aires, na Argentina.

Segundo o curador Dominic Christie, a mostra pretende “demonstrar como a linguagem visual de Centurión emergiu a partir de uma síntese singular de suas raízes Paraguaias e Guaranis e do ambiente cultural de Buenos Aires entre as décadas de 1980 e 1990”.

O contexto cultural de Buenos Aires possibilitou que Feliciano explorasse livremente sua sexualidade, tema que se faz presente em algumas de suas obras que tratam de desejos e paixões por meio de figurações homoeróticas, como um diário íntimo. Quando diagnosticado com HIV positivo, começou a registrar o convívio com a doença em uma série de bordados sobre pequenos travesseiros. Centurión desenvolveu uma obra confessional, na qual biografia e produção artística se mesclam sem deixar de lado referências mais amplas e sutis ao contexto político e social paraguaio e argentino que passavam por um processo de redemocratização.