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Calambur 08/02 >> 22/03/25
Coletiva

Foto: Julia Thompson

08/02 >> 22/03/25
Calambur
Guga Szabzon
Thomaz Rosa
Cristiano Raimondi
Sobre

Calambur é um projeto que nasceu de um diálogo entre dois amigos artistas e um curador que está quase tão distante quanto a própria pesquisa dos dois artistas. Os amigos trabalham, o curador observa e não faz absolutamente nada, exceto dar dicas possivelmente inúteis, trazer um olhar diferente e benevolente, mas, acima de tudo, gosta de torturar os dois artistas. Nossos heróis sofrem invadidos pelo orgasmo que o próprio ato de criar lhes causa. O curador cria limites ao impor a máxima liberdade… não há liberdade se você não estiver ciente dos limites dos outros… Calambur joga em diferentes planos, lidando com problemas dialéticos, visuais, formais requintados de sentido e contra-sentido. Calambur enfrenta a metodologia crítica de frente e não deixa espaço para nada além da força das imagens. Calambur poderia ser uma batata (doce também), um peixe, um perfume, um problema de saúde, uma arma, uma língua, um país, um tipo de abraço, um diálogo, uma homenagem, um experimento… Calambur é tão fluido quanto sua pesquisa. Calambur é repentino. Calambur é o paradoxo da própria vida… ele dá sentido ao sem sentido e se esforça para mergulhar nele criando novos significados.

— Cristiano Raimondi

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Em 8 de fevereiro, sábado, a Millan inicia sua programação de 2025 com Calambur. Idealizado por Guga Szabzon (1987, São Paulo, SP, Brasil), artista representada pela galeria, pelo pintor Thomaz Rosa (1989, São Caetano do Sul, SP, Brasil) e pelo curador Cristiano Raimondi (1978, Bolonha, Itália), Calambur estabelece fluxos e movimentos de aproximação entre a produção de ambos os artistas.

Reunião de obras de Szabzon e Rosa, além de trabalhos criados a quatro mãos, Calambur resulta de um ano de diálogo e colaboração entre os artistas. Ao longo de 2024, eles passaram a frequentar o ateliê um do outro e a trocar um banco de imagens que guardavam como referência, uma prática que, coincidentemente, já mantinham de antemão. Essas aproximações culminaram em ações mais experimentais, que envolvem a criação de obras cujas etapas foram executadas intercaladamente por Guga e Thomaz, além de trabalhos criados em conjunto. Desse último, um exemplo é Só não sei se continuo (2024). A peça teve a sombra projetada pelo corpo dos dois artistas pintada por Rosa sobre a superfície do feltro, material recorrente na produção de Szabzon.

Cristiano Raimondi — responsável pela curadoria de exposições de Szabzon na Millan e na galeria Travesía Cuatro, no México, em 2023 — incentivou a aproximação entre os artistas ao notar pontos de contato em suas respectivas pesquisas. Ainda que seus trabalhos preservem grandes diferenças, sobretudo no que diz respeito aos processos e materiais empregados por cada um, eles compartilham em suas composições a linha e a sugestão de movimentos rápidos, além de um apreço por correntes da arte moderna e da segunda metade do século XX.

O bate-bola mantido por eles é reposto no espaço expositivo, por meio de movimentos de associação entre as obras e, sobretudo, por outro trabalho elaborado pela dupla. Quicada (2024) consiste em uma mesa de pingue-pongue coberta por traços, formas, pinturas e objetos produzidos pelos artistas. Posicionada no centro do espaço, a obra funciona como uma metonímia de Calambur — o movimento veloz da bolinha arremessada de um lado a outro pelas raquetes — ou o do olhar de quem a acompanha — é o mesmo proposto pelo trio que idealizou o projeto: traçar um percurso errático e fugaz pelo universo de cada artista, seu ateliê, suas obras e os artistas olhados por cada um, formando um rastro que embaralhe e reordene nossa mirada sem definições estáticas. ORDINIEDESORDINE, 2024, obra de Guga Szabzon inspirada pelo artista italiano Alighiero Boetti, mais uma referência partilhada, também perpassa esse raciocínio.

Da mesma forma, o título, Calambur, lida com a permutação. Em seu sentido original, designa um jogo de palavras que as aproxima na fala por uma sonoridade semelhante, ainda que tenham significados distintos. Por fim, um zine com as imagens de referência de Guga Szabzon e de Thomaz Rosa foi elaborado para o projeto, em colaboração com o designer Pedro Alencar. Em formato de flipbook, a publicação acompanha uma bolinha que quica página a página, atravessando o universo de referências que informa a pesquisa de cada artista.

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Sobre Guga Szabzon
Guga Szabzon explora o feltro como suporte para costura, tecendo imagens em um processo dialógico entre técnica e gesto, no qual a espontaneidade do traço responde à velocidade da máquina. Em sua obra, as linhas marcam impetuosamente a superfície do feltro, formando composições vibrantes de cores e movimentos ou assemelhando-se a paisagens, mapas e estudos cartográficos. A artista teve mostras individuais na Millan e na galeria Travesía Cuatro, em Guadalajara, no México, em 2023. Também foi premiada no programa de residência artística Brasil Goes Berlin, financiado pelo governo alemão, e participou de residências em Portugal e no Brasil.

Sobre Thomaz Rosa
Trabalhadas sob uma compreensão ampliada da pintura, as obras de Thomaz Rosa alternam a abundância de informação visual e a reticência material e a retenção de seu conteúdo. Suas imagens variam entre abstrações, imagens geométricas e figurações. Suas exposições individuais mais recentes aconteceram em Paris, França, em 2024 e em São Paulo e Milão, Itália, em 2023.

Sobre Cristiano Raimondi
Curador independente. Sua visão interdisciplinar combina arte contemporânea, arquitetura, design, história e ciências sociais. Ele estuda artistas brasileiros com um foco especial na abstração geométrica e na “cultura popular”. É diretor artístico do Prêmio Internacional de Arte (PIAC) da Fondation Prince Pierre, Mônaco. Organizou exposições de Thomas Demand, Thomas Schütte, Ettore Spalletti, Eleonore Koch, Christine Sun Kim, Richard Artschwager, Tom Wesselmann, Rubem Valentim e Alfredo Volpi entre outros.

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