A Galeria Millan tem o prazer de apresentar Correspondências, a quinta individual de Paulo Pasta (Ariranha, SP, 1959) na galeria, que marca também o lançamento de sua nova publicação. A mostra materializa a ideia originada na troca entre Pasta e o curador Ronaldo Brito, ocorrida entre abril e setembro de 2020, em plena pandemia mundial de Covid-19. A publicação registra tal troca, revelando a matriz do pensamento que organiza a exposição. Entre grandes e pequenos formatos, os cerca de 20 trabalhos reunidos na exposição trazem à luz a tarefa do pintor e as reflexões do crítico, fruto da tentativa de encontrar um refúgio em meio aos efeitos adversos de uma crise política e sanitária.
Ao longo daqueles meses, artista e curador trocaram uma série de e-mails, em que Pasta compartilhava fotografias de trabalhos e registros sobre seus processos, enquanto Brito o respondia com formulações, pensamentos e poemas. Nesse processo, intercorreram-se textos, pinturas, desenhos, referências e aproximações com trabalhos de diferentes autores – da pintura à literatura –, uma forma encontrada por ambos de vislumbrar o “futuro em meio à escuridão”. Pouco a pouco, desenvolveram a ideia de realizar uma publicação que registrasse o percurso dos pensamentos nas mensagens trocadas junto de uma exposição que pudesse, segundo Pasta, “mostrar os pequenos movimentos” que ocorrem em seus trabalhos.
Nas telas, a construção de movimentos próprios e internos à pintura coexiste com a sensação de um congelamento do tempo real vivido em confinamento e representa, por isso mesmo, um ato de resistência e tenacidade da pintura. De maneira singular, este caráter do trabalho de Pasta se mostra, nas palavras de Brito, como “um manifesto discreto contra o imediatismo e o oportunismo”. Para ele, a conformação da pintura de Pasta produz uma espécie de topologia das cores em que essas se interpenetram.
Na seleção apresentada, as formas e combinações cromáticas formam estruturas de pórticos, elementos que constituem o que Ronaldo Brito designa, em uma de suas correspondências, como “abstração existencial”. Tal formulação de Brito é capaz de revelar uma nova compreensão sobre o trabalho de Paulo Pasta. Para o crítico, Pasta é capaz de conduzir este gênero à sua versão contemporânea, ao pintar o mistério – “um dos poucos sentimentos pictóricos autênticos” – através de um colorismo mais aberto. Nas palavras do próprio artista, essa “existência abstrata” combina seu interesse simultâneo pela abstração e pelo figurativo.
O intuito da pintura de Paulo Pasta é de instigar uma transcendência através da cor; uma experiência sensorial, como também intentavam Matisse e Cézanne. Há, por exemplo, como analisa o crítico, o uso de um vermelho que se eleva sobre a superfície do mundo ou de um ocre esverdeado que se perde com o entorno cotidiano e, de repente, parece estar fora da tela. Tais cores partem da geometria para criar consigo uma outra poética do mundo. Com esta autonomia cromática, Pasta retém o tempo presente, sempre carregado pelos fantasmas do futuro – faíscas que resistem aos tempos obscuros da realidade.