Em cada um destes 20 desenhos “heterodoxos” inéditos de Artur Barrio, que a Galeria Millan apresenta, podem ser percebidas as raízes que constroem o pensamento do artista. Questões como efemeridade, incompletude, organicidade, inconformismo e tantas outras, que percorreram a sua obra, estão impressas nestas caixas com cerca de 70 x 80 x 10 cm, com resultados formais tão peculiares a seu leitmotiv, que rapidamente podem ser identificadas como um “Barrio”.
Nesta nova série, há indicação de outras datas nos desenhos quando remetem a vivências de trabalhos anteriores. “Qualquer obra de Barrio pode ser considerada uma ‘acomposição’, já que é um trabalho que não aspira a um único fechamento, e sempre conta com a própria dinâmica dos materiais, com a fluência da transformação, com a participação de outra seqüência interativa: a humana, a visitante”, escreve o crítico Adolfo Montejo Navas.
Alguns materiais que utiliza em seus desenhos, como café, laca da índia etc, podem se relacionar às “situações”, intervenções em lugares públicos pelas quais o artista notabilizou-se a partir da década de 60 com seu programa artístico que, como define o crítico Carlos Basualdo, “além de ético, é fundamentalmente político e ainda hoje nos parece admirável pelo seu grau de radicalidade e precisão”.
Caracterizado pela ação, a obra de Barrio foi construída com um extenso universo de materiais insólitos - carne, sal, excremento, pão, etc. “Barrio atuava nos anos 60/70 como uma espécie de guerrilheiro da arte, buscando o nomadismo das ruas, praças e locais ermos para “expor” os seus trabalhos que não traziam assinatura (exemplo: as trouxas de pães velhos), verdadeiras armadilhas para os salões e seus jurados”, escreve o crítico Frederico Morais. O artista, porém, a partir de 1970, começou a registrar as suas ações com fotos, audiovisuais e super-8, quando também retoma o desenho, atividades que proporcionaram o resgate de seu processo de criação e deram origem aos seus Cadernos Livros e Livros-objetos. c