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Lapso 03/05 >> 01/06/13

Lapso

03/05 >> 01/06/13
03/05 >> 01/06/13
Felipe Cohen
Lapso
Sobre

A exposição Lapso explora a ideia de duração temporal através de objetos que deixam à vista somente o início e o fim de uma ação, ou mesmo de uma transformação entre materiais e formas. O duplo sentido da palavra lapso (que, além de significar uma decorrência temporal, também remete a erro ou falha de um processo em relação ao seu padrão) aprofunda a interpretação de cada obra bem como a relação entre elas. Para figuração dessas narrativas (de deslocamento temporal ou transformação matérica), o artista utiliza materiais do cotidiano, como garrafas e sacolas plásticas, interagindo com dispositivos como vitrines e materiais clássicos da arte, de forma a ressignificar momentos e situações ordinárias pela contaminação entre esses dois contextos.

Em texto de sua autoria, de 2008, o artista revela que seu trabalho já então se desenvolvia, há algum tempo, “a partir da tensão dada pelo conflito de uma tradição da arte, principalmente da escultura, com formas contemporâneas de dispor o objeto”, o que continua a se fazer presente nesta exposição: uma paisagem de mármore é construída dentro de um saco plástico; uma vitrine de vidro e madeira, precisamente formalizada, sustenta um galho de árvore; uma lasca de vidro, de uma vitrine quebrada da Galeria, transmuta-se em mármore.

Na peça Resgate, por exemplo, duas sacolas plásticas, unidas por uma de suas alças, contêm pedaços meticulosamente cortados de mármore carrara. Mais que o conteúdo dessas sacolas (a mesma pedra que, pela ação do homem, se partiu em duas), a disposição das mesmas remete tanto a uma decorrência temporal (como um frame congelado de um filme) quanto a uma espécie de engano ou falha (a queda), abrangendo em si os dois sentidos da palavra lapso: enquanto uma delas está sobre a mesa, a outra pende desse suporte, sendo a única coisa que lhe impede de cair ao chão sua união à primeira (as duas alças veem-se transfiguradas, então, em braços – um que socorre, outro que luta por sobrevivência).

A observação do conjunto da exposição (e mesmo de sua produção como um todo) revela que o lapso de Felipe Cohen é ele também, como muitos dos elementos explorados pelo artista, um simulacro, uma fantasmagoria. Assim como, em uma das vitrines exibidas, o prego real jamais se encontra com o buraco que deveria contê-lo (apenas seu reflexo – uma ausência cuja imagem se transveste de presença – chega à iminência desse contato), o lapso do artista é estudado, à escola dos filósofos franceses que, em aula, simulavam a naturalidade de um ato falho para efeitos pedagógicos. A simulação das obras de Cohen, porém, não busca ensinar nada stricto sensu, é pura fenomenologia: abre-nos os olhos para as diferentes temporalidades de cada material, para as impossibilidades tornadas (irônica e paradoxalmente) possíveis. O lapso – temporal ou psicológico – é construto racional, consciente, e lá foi colocado para criar a possibilidade de uma revelação fenomênica, pela qual a ordem comum das coisas e da nossa percepção ganham um desdobramento inusitado.