Noite de Verão é a nova exposição de José Damasceno (1968, Rio de Janeiro, RJ) na Millan. Em sua segunda individual na galeria, o artista apresenta obras nas quais reflete sobre a construção de imagens e sobre o assombro.
Composta apenas por obras inéditas, a exposição apresenta tapeçarias, esculturas, pinturas e instalações, que reúnem os desdobramentos mais recentes na incansável pesquisa do artista. Emprestando o título à mostra, a série de tapeçarias Noite de verão (2023) é criada com a aplicação de patches de tecido sobre peças de tapeçaria coletadas por Damasceno. A aplicação de uma figura feminina reclinada e sensualizada, típica das mídias de massa pop, sobre cenas bucólicas e pastorais feitas no tecido estabelece uma narrativa que transcende temporalidades e realça reflexões sobre o sentido da colagem e como o cânone artístico é incorporado a imagens criadas para grande circulação.
Remontando ao gesto inaugurado por Marcel Duchamp, com o ready-made e a noção de objet trouvé dadaístas, o interesse de Damasceno por estes objetos também vai ao encontro de sua constante investigação sobre as formas e meios da constituição de imagens e sobre a geometria. Construídas sobre uma matriz de linhas entrecruzadas, a feitura de tapeçarias pela técnica da tecelagem remete aos pontos e grids de trabalhos já conhecidos, como Monitor crayon, 2012, e Pontinho, 2017, ou de Geleia óptica, 2023 —esta, criada para Noite de verão.
Além destes elementos, alguns próximos de uma estética kitsch, os trabalhos em exposição são formados por exercícios geométricos: compostos, sobretudo, pela adição ou subtração de círculos e esferas. É o caso das obras inéditas Instrumento e Recorte Rosa, ou ainda de Geleia óptica —feita com elásticos provenientes de vidros de geleia e pregos, que criam uma espécie de tela diretamente relacionada com a construção de imagens nas tapeçarias e que têm um alcance na pesquisa do artista vista em obras como Monitor crayon ou Écran/Crayon, 2007, recentemente incorporado à coleção da Tate Modern.
O aspecto onírico também perpassa toda a exposição, dado pelo estranhamento causado pelas obras e reiterado no título, Noite de verão, uma referência ao fenômeno no extremo hemisfério norte no qual, durante a estação mais quente do ano, o sol permanece visível por quase 24 horas, provocando uma luminosidade singular.
José Damasceno já participou da Bienal de Veneza, Itália, em 2005 e 2007, realizou retrospectiva na Pinacoteca, São Paulo, em 2018, e, recentemente, teve obras incorporadas ao acervo da Tate, Londres, uma das mais importantes instituições de arte moderna e contemporânea do mundo. O ensaio crítico sobre a nova exposição é de José Thomaz Brum, que já publicou diversos textos sobre o trabalho do artista.
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