MENU
O Círculo [Coletiva] 12/07 >> 11/08/18
Coletiva

O Círculo [Coletiva]

Coletiva
12/07 >> 11/08/18
12/07 >> 11/08/18
O Círculo [Coletiva]
Renata Roman
Marco Scarassatti
Lilian Zaremba
Julio de Paula
Sobre

Exposição coletiva O Círculo explora vertentes da arte sonora por meio do trabalho de quatro artistas brasileiros

A Galeria Millan apresenta, de 12 de julho a 11 de agosto de 2018, a exposição coletiva O Círculo. A mostra apresenta uma seleção atual de trabalhos voltados à arte sonora e à plástica sonora, entre instalações, esculturas, fotos e vídeo, produzidos por quatro artistas brasileiros que são referências em arte sonora: Lilian ZarembaJulio de PaulaMarco Scarassatti e Renata Roman.

A artista Lilian Zaremba mostra, na sala principal da galeria, sua “Memoânfora” (2018), uma instalação em feltro de lã que pode receber duas pessoas ao mesmo tempo. Com formato circular, este pequeno ambiente acústico é adentrado pelos visitantes que ali encontram um objeto enigmático, feito em porcelana e com detalhes em bronze. Chegando nele, ouve-se uma paisagem sonora com uma voz que lança um questionamento: - Por que viestes de tão longe fincar bandeira em meus sonhos?

Essa “Memoânfora” busca sua inspiração na memória da água. Segundo a homeopatia, a água possui uma espécie de “memória” das substâncias que estiveram diluídas nela e que não se encontram mais ali, isto é, este líquido vital viaja tempo e espaço absorvendo e guardando informações de todos os diferentes lugares que atravessou, podendo conectar pessoas que dele beberam. Já as ânforas estiveram presentes em muitos momentos e histórias, seja carregando água, azeite ou vinho. Assim, quando alguém abre uma ânfora, é quase como se pudesse escutar: - Por que viestes de tão longe? Embaralhando os limites entre visível, invisível, tátil e audível, o elétrico no feltro de lã e o eletromagnético na voz gravada, a obra de Lilian sugere diferentes sensações no imaginário de quem a explora.

O radioartista Julio de Paula apresenta, também no térreo da galeria, a instalação “Somos Pacha” (2018). O trabalho parte de uma experiência ritual em uma montanha andina, na qual se compartilha a comida e a bebida com a terra. Saudações ao mundo natural e palavras de benevolência integram uma peça sonora difundida em quatro canais. Para escutá-la, cada pessoa é convidada a entrar num círculo de pedras, localizado no centro da galeria. Oferendas dispostas no chão completam três círculos: o primeiro contém sementes, raízes, farinhas e chás. O segundo traz pequenos copos de vidro com cachaça. E o terceiro contém folhas de coca.

Um vídeo documental silencioso registra o momento da abertura da “boca” da terra, em gravação realizada no Trópico de Capricórnio, na região de Huacalera, Argentina, durante o solstício de inverno de 2017. Desconstruir a divisão binária natureza-sociedade, descolonizar o individual e reviver o rito; solstícios são momentos para pedir, agradecer, congregar e, sobretudo, para se entender como parte de um todo. Pacha é tempo-espaço.

O músico e artista sonoro Marco Scarassatti coloca no átrio e no jardim da galeria duas esculturas sonoras relacionadas às atribuições e características dos Orixás africanos. “Exú” e “Oyá” são objetos tridimensionais que, através de seus materiais, formas e movimentos, produzem uma quarta dimensão: o som.

Na cosmologia iorubá, um Orixá é representado no mundo físico por seu Igbá, cuja função é ritualística no recebimento das oferendas para a circulação, transformação e reposição da força vital, chamada Axé. Cada Igbá é um instrumento de concentração de energia associado a um Orixá. Na metafísica iorubá, tudo que existe no mundo físico existe também no mundo spiritual, e, no caso do trabalho de Marco, o que conecta esses mundos é a sonoridade produzida por cada objeto.

Por fim, a artista sonora Renata Roman exibe no primeiro andar da galeria a instalação “o vento leva, o vento traz”, formada por círculos suspensos dos quais pendem cortinas de fitas magnéticas. São objetos relacionados à escuta e à memória ressignificados para a incursão e o ativamento de lembranças subjetivas, através da suave dança das fitas magnéticas, esses objetos carregados de memória sonora. “O vento leva o que não se escuta, o vento traz o que se escutou”, revela Renata.

A obra faz parte de uma série de trabalhos da artista que se utilizam de objetos relacionados ao universo sonoro e da escuta, ressignificados como produtores de sons analógicos e referenciais da problemática da memória.

Sobre os artistas:

Julio de Paula (SP)

Trabalha com mecanismos de documentação, em especial da cultura tradicional. Radioartista, está interessado na gravação e deslocamento de paisagens sonoras latino-americanas. Em 2012 apresentou “Edgard”, pela Mobile Radio BSP (30ª Bienal de Artes de São Paulo). Em 2015 realizou a peça “El Sur Es el Norte” para a Kunstradio – Radiokunst (Áustria), que foi retransmitida pela Rádio Documenta14 - Every Time a Ear di Soun (2017).

Em sua pesquisa, busca um ponto de contato entre o rádio e as artes visuais, o que tem chamado de “rádio expandido”. Vive e trabalha em São Paulo.

Lilian Zaremba (RJ)

Mestre e Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro ECO-UFRJ. Tem Pós-Doutorado sobre o tema “Rádio com imagens? Novas Perspecticas para a tecnologia radiofônica”. “Rádio com imagens?” também é o título de uma palestra proferida no Congresso do INTERCOM-2016 USP.

Publicou vários artigos de pesquisa sobre o universo da linguagem radiofônica organizando os três números da coletânea “Rádio Nova, Constelações da Radiofonia Contemporânea” (ECO/Ed.Publique 1997-2000) e o livro “Entreouvidos: sobre Rádio e Arte” (Oi Futuro/SOARMEC 2010). Seus textos recentes (2013/2014/2016) foram publicados nas revistas Portfolio-EAV e Revista Carbono e no site Kusntradio. É membro do Conselho Consultivo da Portfolio, revista da EAV - Escola de Artes Visuais do Parque Lage, publicando artigos nos números 1, 2 e 3 dessa publicação. É membro do conselho consultivo do grupo de pesquisa Internacional Radio Art (and Creative Audio for Trans-media – IRARG). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Marco Scarassatti (MG)

Artista sonoro, improvisador e compositor, desenvolve pesquisa e construção de esculturas, instalações e emblemas sonoros. Criou e participou dos grupos Stracs de Harampálaga, que se dedicava a intervenções sonoras em espaços públicos, Olhocaligari, de poesia e música experimental, e o grupo Sonax, com o qual realiza trabalhos até hoje.

É professor da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,  atuando nos cursos de Pedagogia, Licenciatura em Música, Formação Intercultural de Educadores Indígenas e Licenciatura do Campo, e é o coordenador do grupo de pesquisa EPART (educação e poéticas artísticas). É autor do livro “Walter Smetak, o alquimista dos sons”, da editora Perspectiva/SESC, publicado em 2008. Vive e trabalha em Belo Horizonte.

Renata Roman (SP)

Artista sonora, dedica-se às poéticas do som e escuta. Seu trabalho transita entre cartografia sonora, instalação, rádioarte, música experimental e eletroacústica. Apresentou quatro instalações sonoras: “A Memória da Casa” (São Paulo, 2011/12; Mar Del Plata-Argentina), “Donde” (Mar Del Plata-Argentina), “404 notfound” (III Salão Xumucuís de Arte Digital, 2014, Belém-PA e Ibrasotope, São Paulo-SP) e “Euspetáculos” (Galeria Jaqueline Martins-SP). Em 2012 participou do FILE (Festival Internacional da Linguagem Eletrônica) e da 30a Bienal Internacional de Artes de São Paulo. Em 2013, a convite da ResonanceFM (Reino Unido), criou a peça sonora “Native” para circular na rede internacional de rádioarte RADIA. Participou de mostras e festivais como Hilltown New Music Festival (Irlanda), Ecos 2013 (Portugal), Süden Radio (Dinamarca/Itália), Radiophrenia (Reino Unido), (H)ear XL II Multimedia Sound Art Exhibition (Reino Unido), Datscha Radio (Dinamarca) e Radio Documenta14, entre outros. Vive e trabalha em São Paulo.