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SOMA 28/08 >> 25/09/21

SOMA

28/08 >> 25/09/21
Curadoria
Ángel Calvo Ulloa
28/08 >> 25/09/21
MUSEUL*RA
SOMA
Curadoria
Ángel Calvo Ulloa
Sobre

SOMA, a primeira exposição da dupla MUSEUL*RA, conta com curadoria do espanhol Ángel Calvo Ulloa e reúne trabalhos inéditos, incluindo pinturas e instalações, produzidas a partir do encontro singular de Rodrigo Andrade e Link Museu, duas figuras históricas nas artes institucionais e urbanas. 

A materialidade da tinta e referências sobre a história da pintura permeiam o trabalho de Rodrigo Andrade (1962, São Paulo, SP), desde a década de 1980. O artista produziu, nesses primeiros anos, trabalhos em grandes formatos alinhados à estética do neoexpressionismo. Na década seguinte, alternou trabalhos figurativos e abstratos e, a partir de 1999, passou a criar obras em que espessas massas de tinta a óleo, em formas geométricas, são aplicadas sobre a tela.

Andrade instalou ainda suas pinturas em espaços públicos de São Paulo, como o Lanches Alvorada (2001), e é nesse contato com esses entornos que reside sua potência: na permeabilidade entre a concentração e a contenção dos elementos presentes nos trabalhos do artista e nos ambientes nos quais foram instalados. 

Do outro lado, Link Museu (Diego Jesus Bezerra, 1986, São Paulo, SP), artista urbano e poeta, há 20 anos vem fixando o emblema MUSEU (criado em 1989) em paredes de construções de todas as regiões da cidade de São Paulo. O desenho e a pixação prevalecem como uma experimentação ininterrupta na vida do artista, que incorporou e transformou os moldes da linguagem do pixo na paisagem urbana da cidade.

De estudos com papéis colados nas paredes do quarto, até os desdobramentos da aplicação da tinta nos muros, o trabalho de Link Museu instiga e cria tensão nos olhares passageiros nas ruas para uma estética urbana que narra sua própria história. Levando a frente do pixo coletivo MUSEU, foi pioneiro ao reinventar novas maneiras de grafar a palavra, passando pela original pixação, e outras técnicas, como o grapixo, a instalação e a pintura a óleo.

O encontro de Andrade e Link Museu ocorreu em fins de 2019. A base para o acontecimento foi o sarau Luau dos Loucos, espaço de efervescência criativa na Cidade Tiradentes (bairro situado no extremo leste da cidade) criado por Link e outros moradores locais a fim de vivenciarem a poesia e a arte de maneira festiva e cotidiana. Já nesse ano, a dupla produziu e exibiu obras na Galeria Reocupa, no bairro da Bela Vista, e realizou eventos de pintura, incluindo a Cohab Fazenda do Carmo, em dezembro.

Em paralelo, se desenvolvia também diversas ações de outro projeto coletivo que contribuiu para a aproximação de ambos os artistas: o ALI (Arte Livre Itinerante), que foi criado em fim de 2018 diante do cenário político tensionado no país, com intuito de explorar a potência proveniente da junção entre artistas do centro e artistas da periferia, sobretudo da Cidade Tiradentes. Atualmente o grupo é formado, além de Andrade e Link Museu, pelos artistas Ana Prata, André Komatsu, Ding Musa, Leandro Muniz, Lucia Koch, Marcelo Zocchio, Marta Nehring, Sara Ramo, Evandro Cesar, Tom Guerra, Nathalia Aguilera, Sindy Paloma, William Ferreira, Faemyna, Leticia Caroline, Laura Melo, Lucas Lins, Yandra Lalleska, Ana Kia, Cleber Big, Euller de Carvalho, Lua Porto, Danilo Lago, Hiago Bezerra, Iasmin dos Santos, Thiago Thibor, Isabel Barboza, Malcom Rodrigues, entre vários outros.

A partir da fértil e ativa colaboração entre o Luau dos Loucos e o ALI, além do Instituto du Gueto, desponta também o Ateliê Um Bom Lugar, que se consolidou como um dos principais espaços de atuação do ALI. Para o curador espanhol Ángel Calvo Ulloa, a atuação do ALI prova-se como exemplo de “uma preocupação coletiva em lançar luz sobre as formas de agir artística e politicamente no dia-a-dia”.

Segundo Andrade, o grupo “é um projeto de sociedade que nasce da cooperação entre artistas de classes sociais diferentes e que se realiza como elaboração simbólica. A minha dupla com Link se mostra quase como a prova cabal de que este conceito deu certo: nós nascemos justamente dessa soma”.

MUSEUL*RA é resultado de uma reunião de diversos contrastes frutos das trajetórias de ambos os artistas. Não tão frequente na História da Arte, a pintura a quatro mãos é aqui levada a parâmetros completamente novos, em que dois extensos repertórios ligados à tinta intercalam telas e paredes para fazer nascer um novo experimento — artístico, político, afetivo e cultural.

Os trabalhos realizados pela dupla trazem a relação entre a palavra e a formação da imagem. Se a palavra “museu” se refere ao espaço de institucionalização das artes por excelência, essa mesma palavra, uma vez projetada nos muros da cidade e agora nas telas, passa a significar justamente o oposto: ela traz aquilo que é externo, aquilo que vive a céu aberto, sujeito às intempéries e que se modifica diariamente.

Também na técnica a palavra ocupa lugar central. O procedimento de sobreposição e o jogo de coexistência entre as pinceladas de Link Museu e Andrade retomam as frequentes justaposições e sobreposições de assinaturas nas paredes pixadas na cidade. Nas paredes, assim como nas telas e cartões, as tintas de MUSEUL*RA produzem um diálogo vivo a partir do cruzamento de intervenções que, não obstante, mantém-se distintas umas das outras, deixando visível o processo do fazer pictórico. Para Calvo Ulloa, SOMA celebra a pintura e documenta seu fazer, dentro e fora do espaço expositivo.

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