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Trabalhos recentes 22/08 >> 26/07/15

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José Resende
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A individual de José Resende na Galeria Millan pode ser compreendida como um desdobramento da exposição realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre abril e junho de 2015. Até caberia dizer que a exposição vem a ser um transbordamento através do espaço e do tempo.

Na Millan, a mostra também é composta apenas por esculturas recentes e inéditas. Mas engana-se quem, apenas, antevê uma nova etapa do trabalho de José Resende - composta por projetos e soluções inovadoras. Pois o caminho percorrido nos 50 anos de produção do artista é de um “eterno retorno”; um continuum refletido e surpreendente. O humor, a tensão, as oposições de sentido, o movimento latente e a sua inscrição no espaço público sempre estiveram e estão presentes em sua obra.

É inegável que a escultura de José Resende explora as relações entre a cidade e o corpo. Seja pela escolha de materiais– chapas e tubos metálicos, pedras, vidro, tecidos -, ou seja pelo embate direto da obra – entre verticais, horizontais, diagonais e curvas – com o entorno. Guiado por um rigoroso pensamento plástico e uma imaginação lúdica, o artista, através de suas esculturas, provoca uma outra visibilidade sobre a paisagem urbana, a corporeidade e a mobilidade do mundo.

Aliás, a ideia de imprecisão do movimento é algo que une as obras de Resende expostas na Galeria Millan. A escultura Dobras (2015) é constituída pelo encaixe de duas chapas de aço: uma circular, dobrada ao meio, com duas fendas em “v” e outra em formato de meia lua. A densidade e a resistência das chapas inspiram uma permanência; uma estabilidade aparente. Que logo cai por terra quando percebe-se que há uma multiplicidade de possibilidades escultóricas dentro da mesma escultura – basta mudar o encaixe da chapa em v. É na ideia de um obra aberta que reside seu movimento, sua tensão constante.

Vale ainda por fim, ressaltar que se na Pinacoteca, a obra Dobras (2015) estava disposta como um par de esculturas idênticas, já na Galeria Millan, a peça se desmembra e aparece como um conjunto de esculturas, em diversas dimensões.

A obra inédita Corpo de Prova II, 2015 alcança outro tipo de movimento. O título já faz uma alusão ao que está em jogo na escultura. O cálculo e a precisão da engenharia são suficientes para controlar a imprevisibilidade da imaginação e do caráter sugestivo da forma plástica? De um lado, dois tubos de aço inox escovado de 4 metros, do outro, dois tubos de aço inox polido também de 4 metros inclinados e, ambos, conjuntos estão ligados por um cabo de aço. Corpo de Prova II remete a procedimentos anteriores - como nos vagões de trem suspensos por cabos de aço e ainda em algumas esculturas da década de 1970 - mas apresenta novas soluções: um balanço pressuposto e potente.

No átrio da galeria, a obra inédita Up Side Down, 2015 – constituída por tubos de latão conectados por cabos de aço - impacta pela sua monumentalidade, pelo humor e pelo desafio da gravidade. Mesmo a despeito da leveza e da qualidade aérea da obra que, aliás, parece criar um volume virtual que avança em direção do corpo do observador, Up Side Down, com os seus 6 metros de altura, tem como desafio se manter em pé. A escultura

também excede em termos de escala o ambiente onde está instalada; há uma tensão entre obra e arquitetura, as dimensões dos espaços – como as colunas, a espessura das paredes, as passagens, os revestimentos de parede, o piso, o teto – são revistas. A mostra fica em cartaz na Galeria Millan até 26 de setembro.