Para a ArPa 2023, a Millan apresenta um projeto individual de Tatiana Blass. A artista apresenta quatro conjuntos de trabalhos, incluindo pinturas em tela e sobre vidro, esculturas, além de uma série inédita de cerâmicas.
Com obras produzidas em distintos suportes, tais quais a pintura, escultura, vídeo, instalação e performances, a poética de Blass é embebida de referências ao teatro, cinema, literatura e música.
Combinando tinta acrílica e guache, a artista constrói ambientes que se assemelham a palcos de teatro ou ao interior de uma tenda de circo. Nestas telas, os planos pictóricos se diluem em tons de cores rebaixados do turquesa, vinho e de marrons, tornando indistintos do fundo as cadeiras, mesas e outros objetos que compõem esses cenários. A continuidade desta pesquisa, iniciada em 2019 com a série Os sentados, se desdobra também nas pinturas nas quais Blass lança mão de massa acrílica para dar volume às formas que sugerem rostos e figuras humanas. O jogo de indissolubilidade entre planos, ao contrário de ser anulado, é reforçado com a nova corporeidade obtida com os relevos criados pela técnica.
Já nas pinturas feitas sobre vidro, há uma inversão da técnica tradicional da pintura a óleo. Realizada no "verso" da superfície, a primeira camada de esmalte aplicada sempre fica imediatamente visível, resistindo às sobreposições de novas camadas. A falta também é parte constituinte dessas imagens à medida que a artista cria recortes e intervalos entre os campos de cor na superfície do vidro.
A operação de dissolução, recorrente na obra de Blass, é invertida em seus trabalhos mais recentes. Na série Quebra-quebra, objetos de cerâmica oriundos do Vale do Jequitinhonha ou de comunidades tradicionais e indígenas têm suas fraturas reconstruídas com a adição de novos elementos em cerâmicas vitrificadas de cores presentes nas pinturas. A nova corporeidade conferida às cerâmicas por essas massas de cor remontam a uma investigação espacial da pintura já empreendida ao longo da carreira de Blass. O gesto reparador nessa série também parte de um rompante da artista em responder ao contexto político recente de desvalorização das artes e das técnicas tradicionais, bem como aos atuais movimentos de reparação.
Ao investigar o esgarçamento da linguagem visual e simbólica, suas obras permitem entrever as lacunas e o desgaste da experiência narrada por discursos e raciocínios convencionais. Sua obra esgarça os limites das linguagens visuais e da experiência narrativa. Subtraindo a funcionalidade, materialidade e integridade de objetos e elementos tangíveis a partir de operações de abafamento, derretimento, vedação ou corrosão, Blass dilui e reconfigura experiências de temporalidade e contemplação.
ArPa 2023
Complexo Pacaembu, São Paulo
De 31 de maio a 04 de junho
Stand B01