Entrevista com Beatrice Arraes por Lucas Dilacerda.
Lucas Dilacerda: As suas obras abordam desde a pintura de letras até às pinturas metafísicas. Para você, quais são as principais temáticas que o seu trabalho discute?
Beatrice Arraes: As temáticas geralmente rondam cenas do cotidiano, que fazem parte dos caminhos que percorro no dia a dia. Além disso, há paisagens inventadas que surgem quase como metáforas de estados de espírito, um aquífero, uma chuva torrencial etc. Os sentimentos e a escrita são sugestões na formação dessas imagens e no seu desdobramento. Muitas vezes uma temática já puxa outra por associação.
LD: Nas suas pinturas, vemos surgir fachadas, letreiros, bancos, jogos de xadrez, logos e demais elementos gráficos da cultura visual. Qual é o seu interesse pelo design popular?
BA: Acredito que esses símbolos gráficos estão intimamente ligados com nossas memórias e experiências do dia a dia. São quase como imagens que se depositam atrás do pensamento, temos uma familiaridade imensa a elas por fazerem parte da nossa cultura material. Me interessam justamente isso, o impacto que essas imagens têm em nós ao mesmo tempo que são extremamente cotidianas, muitas vezes quase que desapercebidas. Além disso, há a interferência de um mundo cada vez mais globalizado, onde os símbolos locais tendem a desaparecer e serem substituídos por uma certa padronização visual. Questões de apagamento, abandono e deterioração são presentes em um mundo que passa por profundas transições.
LD: De que maneira a exposição aborda as mudanças climáticas?
BA: Acredito que aborda a partir do recurso da fabulação. A exposição surge através de uma narrativa de um evento fictício e surreal em uma cidade equatorial, a partir desse evento a natureza reage de maneira diferente. O observador é convidado a entrar nessa atmosfera de estranhamento, medo e aproximação com esses eventos misteriosos.
LD: O sol, a nuvem, a chuva e os vulcões são metáforas? Esses elementos naturais da paisagem seriam
retratos do nosso "eu"?
BA: Com certeza. Acho que o observador pode levar tanto para o caminho da contemplação e da observação distanciada desses eventos, mas principalmente desse eventos serem algo intimamente ligados a experiência humana na terra. Acredito que a exposição realize muito esse convite da paisagem também como um retrato interior.
LD: Quais são as suas principais influências artísticas?
BA: Acredito que hoje possuo uma grande influência de uma série de pintores da história da arte, mas principalmente os pintores metafísicos italianos, as pintoras surrealistas mexicanas e pintores brasileiros como Amadeo Lorezanto e José Antônio da Silva. São pintores que me acompanham desde muito tempo.
Além disso, sou naturalmente influenciada pelos artistas aos quais tive o prazer de conviver e ter parceria na minha vida, entre eles, a pintora cearense Paula Siebra.
LD: Nos nossos encontros, conversamos sobre como a espiritualidade é um meio de se conectar com as forças da Natureza, da memória e da imaginação. O que significa o ato de pintar para você?
BA: Para mim o ato de pintar é uma espécie de fé que cultivamos. Eu não pinto porque tenho certeza e controle do que a coisa vai ser, eu pinto pela jornada que é desvendar essas imagens. Para desvendar eu tenho que desenvolver essa fé na procura, no fazer. Para mim, a vida e a natureza se mostram assim, confiar numa espécie de incerteza.
São Paulo, Brasil
Rio de Janeiro, Brasil
Le Puy-Sainte-Réparade, França
Gwangju, Coreia do Sul
Instituto Tunga
Boa Vista, Brasil
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