MENU
2023
Declaração do artista
Por
Joseca Mokahesi Yanomami

Minha mente se abriu ao desenho desde quando eu era pequeno. Eu ia caçar de brincadeira na floresta e acabava desenhando nas árvores ou na terra depois de tirar folhas mortas. A medida que fui crescendo, eu continuava sempre desenhando, até que tomei consciência do que fazia. Eu me perguntava então: “Como vou fazer para desenhar coisas que estou vendo?”. Tomei gosto, continuei desenhando desse jeito e crescendo, abrindo minha mente brincando. Foi assim que aprendi a desenhar. Eu não descobri o desenho de uma só vez, não. Não foi assim, foi aos poucos. Eu sou um Yanomami, por isso minha mente se abriu ao desenho na floresta pouco a pouco. Não foi na cidade. Ninguém me ensinou, foi a floresta que me ensinou a desenhar. Foi no meio da floresta, brincando, que minha mente se abriu realmente ao desenho. Foi assim que comecei a desenhar e é por isso que continuo até hoje.

Eu não faço meus desenhos sem motivo, me inspiro nas palavras dos xamãs. Daqueles que têm os mais belos cantos, daqueles que sabem realmente fazer ouvir as palavras dos espíritos xapiri pë. Quando fazem suas sessões xamânicas eu escuto seus cantos, gravo na minha mente todas essas palavras e depois transformo em desenhos. Eu desenho então tudo o que descrevem os xamãs: os espíritos, seus ornamentos, seus caminhos, os lugares por onde descem, e assim eu desenho as palavras dos espíritos que escuto em nossa casa.

 

__________
Publicado originalmente em O espírito da floresta, org. Bruce Albert e Davi Kopenawa, Cia. das Letras, 2023