A Galeria Millan tem o prazer de apresentar Peter Halley: Novas Pinturas, primeira exposição individual do artista no Brasil. A mostra reúne cinco obras inéditas, produzidas entre 2020 e 2021, que enfatizam cores e sistemas produzidos pelo consagrado norte-americano que abriu caminho para a descoberta de uma nova linguagem para a pintura abstrata na história da arte. A mostra é acompanhada de uma publicação com texto de apresentação de Richard Milazzo, crítico, poeta e curador baseado em Nova York.
Nascido em 1953, em Nova York, Peter Halley (1953, Nova York, Estados Unidos) desempenhou papel central na consolidação do movimento neoconceitual da década de 1980, uma geração que inclui nomes como Richard Prince, Peter Nagy e Jeff Koons, considerada uma das mais eletrizantes do período pós-guerra. O pensamento dessa corrente artística era orientado por uma consciência paradigmática das formas tecnológicas e arquitetônicas de controle e contenção, buscando valências para a abstração além daquelas colocadas em jogo pelos expressionistas abstratos americanos.
Ao longo de quatro décadas, Halley vem guiando seu discurso visual (carregado de conduítes, grades, prisões, bases, tintas fluorescentes e Roll-a-Tex) no contexto da abstração geométrica para longe das reflexões puramente formais desse gênero e em direção a um pensamento existencialista e social na era digital. Desde a década de 1990, o artista também tem trabalhado com impressões digitais de escalas mais monumentais que, juntamente com suas pinturas, são combinadas em instalações site-specific.
Segundo Milazzo, que vem acompanhando a carreira de Halley desde seus primórdios, sua obra partiu de um caráter mais clássico para desenvolvimentos aparentemente irrestritos nos dias atuais e que buscam contrariar uma suposta opressão do esteticismo abstrato e do positivismo. Essa postura de Halley se mostra evidente na presente exposição, que traz a produção mais recente da série Shaped Paintings [Pinturas Modeladas], iniciada em 2018, e que se situa nesta última fase mais rebelde de sua trajetória, um resultado de décadas de pesquisa.
Across Time e Double World (2020) e Between Two Worlds, Ascendant e Reminiscence (2021) — são apresentadas estruturadas em suas bases, bem como a maioria das produzidas nos dois últimos anos, e sugerem, segundo Milazzo, não apenas as ideias de equilíbrio e elevação, mas também de precariedade e de uma situação de prisão, tema recorrente em sua prática. No entanto, neste grupo, o artista agrupa as celas e prisões para criar uma atmosfera de superfluidade controlada.
Das cinco pinturas da exposição, apenas Reminiscence parece trazer um olhar aberto para o passado das telas pré-moldadas, mantendo, como Halley costumava fazer, o método de conectar as prisões pelos conduítes. “Menos instável que as outras, mas ainda assim configurando uma borda nos outros três lados que é irregular e além de qualquer cálculo racional ou memorável”, analisa o crítico. Já Ascendant possui um senso de humor ao trazer a prisão localizada no meio e no topo toda torta. “Se não é “reto”, por assim dizer, se é, de fato, arquitetonicamente comprometido ou subvertido, é porque nem tudo está bem com o mundo?”, indaga.
A grade é a realidade subjacente às celas e prisões de Halley e representa até mesmo o alcance cada vez maior da linha em seu trabalho, ou dos conduítes em si. Mas o uso da cor e sua tentativa de criar um mundo de sonho separado do racionalismo ocidental e de integrar os aspectos formais de uma imagem e seu conteúdo simbólico falam de outro desejo de Halley.
Nas palavras de Milazzo, o que parece contraditório na decisão estética subversiva do contraste entre as prisões e celas desumanizadas com cores comerciais brilhantes não o é de todo. Nelas o artista parece deixar emergir seu intento “de escapar das ‘prisões’ que ele vê ao nosso redor — sejam essas de natureza arquitetônica ou internalizadas como forças comportamentais obsessivo-compulsivas que podem estranhamente nos ajudar a encontrar nosso caminho, se conseguirmos controlá-las, ou nos limitar em tudo o que fazemos e queremos alcançar, se elas nos controlarem”.