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Anomalia da solidão 01/04 >> 06/05/23

Anomalia da solidão

01/04 >> 06/05/23
Curadoria
Ricardo Sardenberg
01/04 >> 06/05/23
José Bento
Anomalia da solidão
Curadoria
Ricardo Sardenberg
Sobre

Intitulada Anomalia da solidão, a nova individual de José Bento transforma o espaço expositivo por completo ao revestir todo o piso com serragem de árvores da mata atlântica, onde o artista apresenta “uma floresta” de suas reconhecidas esculturas de árvores, além de duas grandes instalações, uma no início e outra no fim do percurso da mostra. O conjunto de obras em exposição soma mais de seis toneladas de madeira.

Pica Pau, a primeira instalação vista pelo público, é formada por dois troncos gigantescos – “resgatados” pelo artista depois da queda da árvore. Dentro deles foram esculpidas tocas que se transformam em cabines de vídeo onde o visitante pode se acomodar para assistir a vídeos de pica-paus construindo um ninho e alimentando seus filhotes gravados pelo artista em sua casa, em Nova Lima, MG.

Com curadoria de Ricardo Sardenberg, que trabalha com Bento há 20 anos, o título da exposição é tomado de outra obra, constituída por um tronco encontrado pelo artista. Abandonada solitária em um terreno transformado em pasto, a Peroba-Rosa desenvolveu anomalias semelhantes a tumores em seu tronco. O fenômeno, chamado de “anomalia de solidão”, corresponde aos últimos esforços de sobrevivência da árvore depois de ter sido subitamente isolada de sua família, conforme explica o artista. Levado para dentro do espaço expositivo, o remanescente desta árvore traz à tona reflexões sobre como vidas não-humanas também estabelecem relações e formas de comunicação. Pensamento que perpassa a vida e o trabalho de José Bento que, além de exímio escultor, ressalta as semelhanças entre nós e os seres vegetais e é capaz de detalhar as características de cada madeira utilizada. A relação ética do artista com o meio-ambiente – e as denúncias que faz contra o desmatamento desenfreado – são visíveis pelas autorizações e relatórios de origem das madeiras emitidos pelos órgãos de fiscalização que o artista fez questão de expor ao lado das obras. Se em seu momento inicial a exposição apresenta imagens do início da vida, ela é encerrada com Navio Tumbeiro, um monolito esculpido em madeira preta, potencializado pela referência corpórea de um caixão, disposto sobre uma maca hospitalar, numa sala totalmente escura. A obra evidencia as ligações entre a invasão colonial com o extrativismo e com o atual cenário de crise ambiental e, ainda, com a perspectiva de que o planeta seguirá seu curso mesmo com a extinção da humanidade.

Sobre o artista. José Bento nasceu em Salvador, BA, em 1962. Vive e trabalha em Nova Lima, MG. Superando os limites formais da escultura, seu trabalho cria diálogos com a arquitetura por meio de silenciosas intervenções, de construções e desconstruções de objetos, instalações interativas, fotografias, performances e vídeos, utilizando principalmente materiais como a madeira – comumente oriunda de demolições –, a porcelana e o vidro. Em sua primeira exposição individual, em 1989, no Paço das Artes de Belo Horizonte, o artista inaugura a discussão da relação entre os planos bi e tridimensionais a partir de maquetes e objetos construídos com palitos de picolé. Em 1992, recebe o Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no 12° Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro. A obra Chão, site-specific cujo material, oriundo de reformas e de demolições, sobrepõe-se a camadas de molas e simula uma experiência de instabilidade ao caminhar, foi apresentada na 32ª Bienal de São Paulo, ocupando uma área de 627 m2 do Pavilhão da Bienal. Em 2018, apresentou sua primeira exposição individual na Millan, Todos os olhos.

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