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2013
Ground – fazer da matéria mente
Por
Flavio Gonçalves

A seleção de trabalhos que Túlio Pinto apresenta em Ground reúne algumas ideias caras ao artista desenvolvidas em suas propostas ao longo dos últimos anos. Essas ideias são expressas pelas relações de contato e proximidade de diferentes materiais e princípios; diferenças que quando contrapostas reforçam suas qualidades mais fundamentais, expressas no modo como essas remetem ao corpo e suas limitações: flexibilidade, queda, tensão, rigidez e equilíbrio.

Túlio afirma que sua atenção está voltada para o solo, para o impacto sólido de sua presença, como uma força capaz de redefinir as ações nos trabalhos. Mas percebemos isso de modo indireto, mediado por estratégias contrapostas e materiais que se distendem e se retesam.

Assim, os trabalhos são concebidos como sistemas - conexão de um conjunto de fenômenos cuja escala e intensidade nos atrai e nos põe em alerta como uma presença. Esses fenômenos são próprios do mundo físico, da força bruta que atua continuamente e sem razão: uma linha estirada liga um peso a um plano de vidro, produz um equilíbrio improvável entre solidez e transparência; o ferro nos mostra o fundamento do que é feito o vidro que lhe intercepta, sua fragilidade. A aproximação dessas diferenças se transforma em oportunidade de tomarmos distância, de percebermos como a ação constante de uma força testa nossa compreensão do mundo.

A gravidade atrai todos os corpos para o centro da terra. Podemos apenas imaginar esse ponto onde se concentraria toda a tensão, o peso movente de nosso corpo e o desejo que experimentamos - tão inacessível quanto o Outro. Todas as nossas ações convergiriam para esse zero infinito, não fosse o esforço de projeção, extensão e vôo; que fazem da mente algo diferente da matéria.

Portanto, nós conhecemos bem as forças postas em jogo em Ground, mas as conhecemos dentro de um outro contexto. Os sistemas propostos por Túlio nascem dos mesmos conflitos de forças no qual estamos cercados. Eles fazem referência a essas forças que, ao mesmo tempo em que nos confinam no espaço absoluto de um ponto, geram a possibilidade poética de evasão e criação.

Vivemos empuxos, compressões, quebras e vertigens numa velocidade que nos impele a consentir sem refletir. Benjamin já nos falava a quase um século: a interrupção e o choque são assimilados pela necessidade de seguirmos adiante e o que nos resta são fantasmagorias.

Quando nos aproximamos dos trabalhos em Ground somos atraídos a decifrar a lei que organiza cada conjunto; reconstruir a continuidade que permite aos materiais desafiar seu destino. Na oscilação entre proximidade e fuga a arte nos interroga, nos propõe uma pergunta cuja resposta equivale em nossa mente a abertura sensorial e conceitual de um impasse. Mas o tempo da interrogação é o da espera, da tensão estacionária que torna o familiar estranho, por isso a expectativa de um desfecho, como o desarme de uma armadilha.

A experiência da arte se dá nesse intervalo, quando emergimos da experiência sensorial buscando um sentido perdido. O contrário é simples aceitação.