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2009
A pintura pelo avesso
Por
GAUDÊNCIO FIDELIS

Lidar com algumas das mais candentes questões pictóricas postas pela pintura a partir dos anos de 1960 tem sido a razão de ser da pintura de Dudi Maia Rosa. Esta é, entretanto, uma pintura que nunca adotou uma perspectiva niilista de pensar os limites da pintura, até porque para Dudi esses limites sempre estiveram dados.

Trata-se de elevar o estatuto da pintura a uma condição de realidade material, em que o que se quer realizar é uma pintura cuja densidade é reforçada pela intuição do corpo pictórico como uma presença comemorativa.

O trabalho de Dudi resolveu de maneira brilhante uma questão que surgiu para a pintura em meados dos anos de 1960 na França: a relação entre suporte/superfície.

Sua pintura nasce em uma conjunção simultânea entre esses dois elementos, fazendo com que tal dilema mostre-se resolvido aqui de forma definitiva. A despeito dos parentescos históricos com os quais se relaciona a pintura de Dudi Maia Rosa, sua obra sempre esta ligada a uma realidade material e a toda uma série de negociações que o artista teve de realizar entre o meio e suas próprias vontades.

Seria uma falência fazer pintura sem acreditar nela, sem ser nesse exercício de pintar uma crença na dimensão pictórica do mundo. Logicamente que uma tomada de perspectiva com determinada dose de liberdade poética traria para a obra alguns dilemas, como dúvida entre essa mesma densidade poética e a materialidade do quadro. Nesse caso, parece-me que tal dilema passa a ser exatamente o motor da obra ao fazer dela um terreno no qual a vontade e os delimitadores culturais entrarão em confronto muitas vezes. Vários desses dilemas, ao longo do tempo, passam a imprimir ao trabalho uma característica fundamental considerada um mérito: a de que, ao buscarmos um lugar não-específico dentro dos limitadores culturais sob os quais podemos ver a produção de pintura de Modernismo para cá, e ao descolar-se tão intensamente para suas bordas a obra, o fez na iminência de tornar-se uma quase pintura, estrangeira e alheia a seus parentes mais próximos, como um filho que deixa a casa dos pais como objetivo de crescer e emancipar-se.